Desde o assassinato até as recentes prisões, um olhar detalhado sobre as etapas da investigação do Caso Marielle Franco
O assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, ocorrido em março de 2018, continua a ecoar no coração e na mente dos brasileiros, simbolizando não apenas a perda de vidas preciosas, mas também os desafios na luta contra a corrupção e a impunidade no Brasil.
Recentemente, uma reviravolta significativa foi revelada: as prisões de figuras políticas e de um delegado de polícia, trazendo novas esperanças de justiça para um caso que permaneceu, por muito tempo, envolto em mistério e controvérsia.
Em uma reviravolta marcante na investigação que perdurou por seis anos, a Polícia Federal (PF) anunciou a prisão dos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, além do delegado Rivaldo Barbosa, no último domingo (24), suspeitos de serem os mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
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O crime
Marielle Franco e Anderson Gomes foram brutalmente assassinados na noite de 14 de março de 2018, no Centro do Rio de Janeiro, quando o carro em que estavam foi perseguido, emboscado e alvejado por diversos disparos vindos de um Cobalt prata, resultando em suas mortes imediatas.
Este crime não apenas chocou o Brasil pela brutalidade, mas também pelo que Marielle Franco representava: uma voz ativa contra as injustiças sociais, a violência e a corrupção, especialmente em áreas dominadas por milícias.
As investigações iniciais
Ronnie Lessa, apontado como autor dos 13 disparos que matou Marielle Franco, e Élcio de Queiroz que dirigia o Cobalt prata, ambos ex-policiais, foram identificados e presos como os executores físicos do crime, no dia 12 de março de 2019, quase um ano após o atentado.
As revelações da delação
Ronnie Lessa, um dos executores de Marielle Franco, em um acordo de delação premiada , apontou os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão como os mandantes do atentado. O então chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Rivaldo Barbosa, foi acusado de planejar o crime e obstruir as investigações, assegurando impunidade aos envolvidos.
Quem mandou matar Marielle Franco?
Recentemente, a Polícia Federal (PF) fez um avanço significativo no caso com a prisão dos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, figuras proeminentes na política do Rio de Janeiro, suspeitos de serem os mandantes do crime, e de Rivaldo Barbosa, à época chefe da Polícia Civil do RJ, acusado de facilitar o planejamento do crime e de obstruir as investigações, prometendo impunidade aos mandantes.
A ordem de prisão dos suspeitos foi expedida pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), com a concordância da Procuradoria-Geral da República (PGR). Os detidos foram removidos do Rio de Janeiro para Brasília, de onde serão encaminhados a presídios federais.
Quantas pessoas foram presas pelo crime?
Até o momento mais recente desta cobertura, sete indivíduos haviam sido detidos sob acusação de envolvimento no crime. Segue a lista dos envolvidos e as datas de suas prisões:
Os motivos por trás do crime
Os detalhes revelados pela Polícia Federal apontam para uma trama complexa com motivações políticas e econômicas. Marielle Franco, conhecida por sua luta incansável contra a corrupção e as milícias no Rio de Janeiro, teria sido vista como uma ameaça aos interesses dos irmãos Brazão, figuras políticas com longa trajetória e influência na região de Jacarepaguá, conhecida por ser dominada por milícias.
A vereadora opôs-se a um projeto de lei que regularizaria ocupações clandestinas em áreas de milícia, o que teria sido o estopim para a execução do crime. A investigação da PF sugere que o atentado foi meticulosamente planejado desde o segundo semestre de 2017, com os irmãos Brazão contratando o ex-policial militar Ronnie Lessa para executar o assassinato e garantindo a impunidade do crime através do delegado Rivaldo Barbosa.
Obstáculos na investigação e demora na elucidação
O caso de Marielle Franco foi marcado por uma série de complicações, incluindo a desaparição de evidências cruciais, a inserção de testemunhas falsas, e um jogo de influências que buscava desviar a atenção das verdadeiras motivações e autores do crime.
A complexidade na resolução do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes se deveu a múltiplos fatores que obstruíram o avanço das investigações por seis anos. Inicialmente, a dificuldade em obter provas concretas e a manipulação das investigações através da inserção de uma testemunha falsa marcaram o processo.
A situação foi agravada pela intervenção federal no Rio de Janeiro em 2018, sob o comando do general Braga Netto, que indicou Rivaldo Barbosa para uma posição chave, influenciando diretamente no curso das apurações.
As investigações foram constantemente desafiadas pela falta de evidências claras, como gravações de câmeras de segurança, e pela alteração da equipe do Ministério Público e da Polícia Civil, refletindo uma instabilidade no grupo de investigação.
Em 2019, uma tentativa de federalizar o caso foi feita pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, que também denunciou Domingos Brazão por tentar desviar o foco das investigações, o que acabou sendo rejeitado pela justiça.
A Polícia Federal assumiu o caso em 2023, marcando um ponto de virada com a identificação de falhas anteriores e o fortalecimento das investigações através de acordos de delação premiada.
Importantes revelações vieram à tona, incluindo a confissão de Élcio de Queiroz sobre sua participação no crime e a delação de Ronnie Lessa, que implicou os irmãos Brazão como mandantes.
Rivaldo Barbosa foi identificado como um facilitador no planejamento do crime e acusado de manter relações com organizações criminosas, contribuindo para a obstrução da justiça. As investigações, previamente limitadas à jurisdição estadual, e o envolvimento de figuras-chave como Giniton Lages e Marco Antônio de Barros Pinto, também foram pontos críticos, ambos afastados por determinação do STF.
O futuro do caso
As prisões preventivas dos suspeitos sinalizam o início de um processo judicial que promete ser longo e complexo, com implicações significativas para a política e a justiça no Brasil.
A atenção agora se volta para as próximas etapas do processo legal e para as possíveis repercussões dessas prisões. A Câmara dos Deputados terá a tarefa de decidir sobre a manutenção da prisão preventiva de Chiquinho Brazão, uma vez que ele possui foro privilegiado por ser deputado federal.
Este momento é crucial para demonstrar o compromisso do Brasil com a justiça e o combate à impunidade, especialmente em casos que envolvem corrupção e violência política. A comunidade, os familiares das vítimas e ativistas aguardam ansiosamente por um desfecho justo, que possa, de alguma forma, honrar a memória de Marielle Franco e Anderson Gomes.
Enquanto o Brasil e o mundo aguardam respostas definitivas, a memória de Marielle Franco permanece viva, simbolizando a luta incessante por direitos humanos, justiça e dignidade.