1.116 mortes e contando: O combate urgente a uma epidemia sem precedentes
O Brasil enfrenta uma crise sem precedentes em saúde pública, com o registro histórico de 1.116 mortes por dengue nas primeiras treze semanas de 2024. Essa marca sombria supera os números anteriores, estabelecendo um novo recorde desde o início da série histórica em 2000. No ano anterior, o país já havia sido assolado por uma grave epidemia, registrando 1.094 óbitos, enquanto em 2022, 1.053 mortes foram contabilizadas.
“Atingir esse número alarmante de mortes não é uma surpresa, considerando a magnitude da epidemia que enfrentamos. Esta é a maior epidemia em termos de casos e de abrangência geográfica da história do país, e infelizmente isso se traduz em um número elevado de vidas perdidas”, lamenta Alberto Chebabo, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia.
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Comparativamente, no mesmo período do ano anterior, o Brasil havia registrado apenas 388 mortes, destacando a gravidade do cenário atual. Além disso, os casos de dengue dispararam, chegando a 2.963.994 nas primeiras treze semanas deste ano, um número sem precedentes. Em contraste, no mesmo período de 2023, foram registrados 589.294 casos.
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“É fundamental destacar que as mortes por dengue são evitáveis. O tratamento precoce e adequado, baseado principalmente na hidratação, pode prevenir a maioria das complicações. No entanto, em muitos estados e municípios, a estrutura para o tratamento eficaz não foi adequada, resultando no trágico número de mortes que testemunhamos agora”, enfatiza o especialista.
Em fevereiro, o Ministério da Saúde estimou que o país poderia registrar até 4,2 milhões de casos de dengue este ano, ressaltando a gravidade da situação. No entanto, recentemente, o governo informou que a maioria dos estados brasileiros já superou o pico de casos da doença.
Apesar dessa aparente melhora, 11 unidades da federação decretaram estado de emergência devido à dengue: Acre, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Amapá, Paraná, Rio Grande do Sul e Distrito Federal.
A secretária de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Ethel Maciel, destaca que embora haja uma tendência de queda nos casos, a situação ainda é desafiadora. “Temos uma queda nos casos prováveis de dengue. Isso está se consolidando. É um pouco diferente a epidemia nos estados agora”, observa a secretária.
Diante desse contexto alarmante, é urgente que se intensifiquem os esforços de prevenção, controle e tratamento da dengue em todo o país, visando mitigar os impactos devastadores dessa doença e proteger a vida e a saúde da população brasileira.
Saiba mais sobre a história da Dengue e do mosquito Aedes Aegypti
O mosquito Aedes Aegypti tem uma longa história que remonta ao período das colonizações, espalhando-se pelo mundo desde o século XVI, durante as Grandes Navegações. Originário do Egito, na África, foi introduzido no Novo Mundo durante o período colonial, possivelmente através do tráfico de escravos em navios. Inicialmente descrito como Culex aegypti em 1762, seu nome definitivo, Aedes aegypti, foi estabelecido em 1818 após a descrição do gênero Aedes. Relatos da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) indicam que a primeira epidemia de dengue nas Américas ocorreu no Peru, no início do século XIX, com subsequentes surtos no Caribe, Estados Unidos, Colômbia e Venezuela.
No Brasil, os primeiros registros de dengue datam do final do século XIX, em Curitiba (PR), e do início do século XX, em Niterói (RJ). Inicialmente, o mosquito era mais associado à transmissão da febre amarela do que à dengue. Em 1955, o Brasil conseguiu erradicar o Aedes aegypti como parte das medidas de controle da febre amarela. No entanto, o relaxamento dessas medidas na década de 1960 levou à sua reintrodução no país. Hoje, o mosquito está presente em todos os estados brasileiros.
O Ministério da Saúde registra a primeira ocorrência documentada clinicamente e laboratorialmente do vírus no Brasil em 1981-1982, em Boa Vista (RR), causada pelos vírus DENV-1 e DENV-4. Epidemias subsequentes ocorreram em 1986, no Rio de Janeiro, e em algumas capitais do Nordeste. Desde então, a dengue tem sido uma preocupação constante no país.
Em 1908, durante um verão que gerou alerta para a febre amarela no Rio de Janeiro, o pesquisador Antonio Gonçalves Peryassú realizou estudos cruciais sobre o ciclo de vida, hábitos e biologia do Aedes aegypti. Suas pesquisas foram fundamentais para os esforços de erradicação do mosquito nas décadas seguintes e continuam a guiar os estudos sobre o controle do vetor até os dias atuais.
Peryassú, em sua monografia “Os Culicídeos do Brasil”, descreveu detalhadamente os hábitos do Aedes aegypti e de outros mosquitos da mesma família, trazendo à luz aspectos inéditos de sua biologia. Seus experimentos revelaram informações valiosas, como a resistência dos ovos do mosquito à dessecação, podendo permanecer viáveis por até um ano sem contato com a água. Além disso, observou-se que os grandes reservatórios de água são os criadouros mais produtivos do vetor.
As descobertas de Peryassú, incluindo a relação do mosquito com a temperatura e densidade populacional, contribuíram significativamente para a compreensão e controle do Aedes aegypti. Seu trabalho fortaleceu as campanhas de erradicação do mosquito conduzidas por médicos sanitaristas como Oswaldo Cruz, resultando na eliminação do mosquito no Rio de Janeiro na década de 1920 e sua quase erradicação do Brasil algumas décadas depois. Muitos dos aspectos levantados por Peryassú continuam a ser pontos fundamentais na agenda científica para o desenvolvimento de estratégias de controle do mosquito transmissor da dengue.